O bambu que, dia a dia, se adornava de nova beleza, estava ciente de que seu senhor o amava e tinha nele sua maior alegria.
Certo dia, Bem-Davi achegou-se muito pensativo, para bem perto de sua planta de estimação. O bambu, que tinha profundo respeito e veneração por seu dono, inclinou-se em humilde imponência até o chão...Aí estava ele como um submisso, mas sem jamais sonhar com o plano de seu senhor. Era o começo para um diálogo de grande significação. O primeiro a tomar a palavra foi o Bem-Davi:
- Querido bambu, eu preciso de ti...
O bambu, cujas folhas balançavam suavemente ao sopro do vento, estava feliz, por ter chegado o momento de fazer algo para o qual fora criado. Era, pois, momento muito especial de sua vida. Respondeu, então, baixinho:
- Senhor, estou pronto!... Faça uso de mim para o que quiser!
Com voz grave e fixando o olhar nele, disse-lhe Bem-Davi:
-Bambu, ...somente poderei fazer usar-te se eu te podar...
O bambu, estremecendo, exclamou:
- O senhor quer podar-me? ...Eu lhe peço, por favor, não faça isso! ...Deixe minha figura como está, veja como todos me admiram!
Bem-Davi, com a voz mais grave, mais imperiosa, retrucou:
- Meu terno bambu, não importa se és admirado ou não...devo podar-te, pois doutra maneira não poderei fazer uso de ti!...
Houve um momento de suspense...No jardim tudo se aquietou. Até a brisa reteve a respiração. Aquele silêncio questionava... E o belo bambu inclinou-se, numa aceitação quase forçada, e suscitou:
-Senhor, se não pode fazer uso de mim, sem eu passar pela poda, então faça comigo o que quiser!
-Meu querido bambu, devo cortar-te também as folhas...
-Minhas folhas? Será possível? Preserva-me deste mal. Destrua minha beleza, mas deixe-me as folhas!
- Meu querido bambu, devo cortar-te também as folhas. Sem cortar tuas folhas não poderei usar-te.
O ambiente parecia atemorizar-se. O sol escondeu-se uma borboleta afastou-se depressa...
E o bambu, ainda trêmulo, disse a meia voz:
- Senhor, pode cortar minha folhagem!
- Meu querido bambu, isso ainda não me basta, deverei cortar-te pelo meio e tomar também teu coração. Se assim não fizer, não poderei fazer usar-te.
A exigência chegara ao extremo. E o bambu disse:
- Como poderei viver sem coração?
- Só posso repetir. Deverei tomar teu coração, caso contrário, não servirás para meu uso!
O bambu inclinou-se até o chão:
- Senhor, corte e divida...
Então Bem-Davi desfolhou o bambu, decepou seus galhos, partiu-o em duas partes e arrancou-lhe o coração.
Levou-o para os campos ressequidos a uma fonte de onde brotavam águas cristalinas. Ali deitou, cuidadosamente, o seu querido bambu. Ligou à fonte uma extremidade do tronco partido e a outra foi fixada no canal dos campos.
A fonte entoou uma bela canção e as águas borbulhantes precipitaram-se alegres sobre o despedaçado bambu até o canal, de onde puderam transbordar sobre os campos ressequidos, que tanto suspiravam pelas águas. Fez-se, então, o plantio de arroz. Os dias foram passando... a terra continuava recebendo água da fonte, através do bambu. A sementeira cresceu , deu frutos e veio o tempo da colheita. O deserto torna-se oásis.
Assim o esbelto bambu de outrora transformou-se em grande bênção em seu aniquilamento. Desempenhou função vital, tornando-se útil. Enquanto era grande e belo servia somente a si, alegrava-se com sua própria beleza, mas, na doação, tornou-se canal do qual o senhor se serviu para tornar fecundo o seu reino. Muitos viveram do bem que emanava do novo canal. Foi do aniquilamento que surgiu a vida. Foi da humilhação que surgiu o amor.
- Senhor, em minha vida: toma, corta, divide para melhor servir a meus irmãos...
Que você também possa sentir vontade de ser um 'Bambu' nas mãos do Senhor, basta apenas ter coragem!!!