Além do Rio Azul...

Ausência : carência, afastamento, falta de presença. Hum... como isso dói.
Em 2003 estava concluindo uma especialização em Mamografia, pós curso técnico em Radiologia Médica no Senac. E numa das tantas aulas interessantes sobre câncer, a nossa profª Nancy, comentou sobre as estatísticas do câncer de mama,que a cada dia estava aumentando mais, e nós com aquela garra de toda turma, entusiasmada, fim de curso, querendo domar o câncer a todo custo ( pura ilusão), observávamos os ditos dela, quando a mesma fez uma reflexão, olhando bem séria pra nós e disse : em se tratando de estatística, uma entre nós ou na família provavelmente terá câncer de mama. Nossa!!!!!Foi uma revolução naquela hora, ninguém queria ser a tal família escolhida. Eu mesma, falei: Sangue de Cristo tem poder, na minha não!!! E fomos pra casa e aquilo não saia da minha cabeça. Passaram-se alguns dias, e comentei isso com as minhas irmãs, já as orientando pro auto-exame, mamografia, etc. Infelizmente a minha irmã mais velha, a Núbia, apareceu com algo estranho na mama e me mostrou. Não pude acreditar no que estava vendo, parecia um filme passando na frente dos meus olhos...e tive certeza que ela estava com câncer de mama, devido o que tinha acabado de estudar. Começou a luta pra saber o verdadeiro diagnóstico. Consultas, exames, muitas lágrimas, o não querer acreditar naquilo, que não passava de um pesadelo, porém, não era pesadelo, era realidade , ela estava com o câncer muito avançado, aos seus 35 anos. Foram dias muito sofridos pra todas nós, para o esposo e filho que nessa época tinha 4 aninhos. Não entendia o que estava acontecendo, como também foi difícil ver a mamãe dele careca, por várias vezes...Foram 4 anos e meio de muita luta, luta pra melhorar, luta pra viver. Ela fazia de tudo e sempre aparecia com uma força, que só Deus concedia à ela, porém, ela não agüentou e em 03/01/2007 ela faleceu.
Deixou um buraco na nossa família, nas nossas vidas, como também, deixou exemplos : de mulher guerreira, esposa fiel, cooperadora, mãe exemplar, tanto para o seu filho como pra nós irmãs, que tornara mais mãe do que irmã, filha muito querida pelo nosso pai, profissional 100%, capaz de fazer a vida árdua dos pacientes, na função que ela exercia como auxiliar de enfermagem, mais ameno, com menos dor. Amava ajudar a quem estava precisando, era sempre muito presente.
Hoje sinto falta das suas visitas, do cafezinho com bolo, à tarde, quando a visitávamos, das suas constantes ligações, só pra saber como eu estava. Ficou uma lacuna, tão grande, que as minhas palavras fogem, e não consigo decifrar o que sinto. Só sei de uma coisa, que Deus reservou um lugar muito lindo pra ela, porque ela mereceu. Aqui na terra, cumpriu a sua missão, e como cumpriu, deixando exemplos a serem seguidos. Apesar de todo o seu sofrimento, ela nunca brigou com Deus, só dizia que estava em paz... E que Deus não era bom, era MARAVILHOSO!!!
Ainda choro por sua ausência, sempre, contudo, tenho orgulho de saber que o Senhor a criou e a fez minha irmã. Tive o prazer de tê-la bem perto de mim e ter se tornado confidente na sua luta contra o câncer.
Agradeço sempre ao Senhor, por não ter deixado a minha irmãzinha sofrendo aqui por muito tempo, a recolheu para um mundo melhor e hoje tenho plena certeza, que ela está além do Rio Azul...